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Por Trent Toone, Church News
Em 1896, Martha Hughes Cannon, uma democrata norte-americana, derrotou o seu próprio marido, um republicano, para se tornar a primeira mulher senadora estadual nos Estados Unidos da América.
“Mattie”, como era chamada, também era médica, palestrante, defensora dos direitos das mulheres e sufragista, esposa, mãe e membro de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.
O rico legado de Cannon foi celebrado na segunda-feira, 1º de julho, seu 167º aniversário, na Biblioteca de História da Igreja.
A história de Cannon é um “exemplo fascinante da vida complexa e paradoxal de muitas sufragistas de Utah”, disse Rebekah Clark, diretora histórica da Better Days [em inglês], uma organização sem fins lucrativos, dedicada a expandir a educação sobre a história das mulheres de Utah.
“Sua história sempre me cativou e inspirou. Com o passar dos anos, passei a amar Martha”, disse Clark. “Ela foi excepcional em muitos aspectos, mas também representou muitas mulheres de Utah, as quais trabalharam ativamente para garantirem o direito de voto e depois usarem essa voz política para ajudarem a moldar o novo estado, e causarem um impacto positivo em suas comunidades. É isso que as mulheres de Utah têm feito desde o início.”
Clark, ao lado de Tiffany Bowles, curadora do Museu de História da Igreja e especialista em sufrágio feminino em Utah, assim como outros convidados, se reuniram na Biblioteca de História da Igreja na segunda-feira, 1° julho, para comemorarem o aniversário de Cannon e discutirem sua vida e realizações.
Como parte do evento, vários itens históricos foram exibidos, incluindo o caderno de Cannon da Faculdade de Medicina da Universidade de Michigan, cartas pessoais e fotografias, uma das quais mostra Cannon e outras líderes dos direitos das mulheres de Utah, como Susan B. Anthony e Anna Howard Shaw, em 1895.
A vida de Cannon e feitos notáveis
Nascida em 1º de julho de 1857, no País de Gales, a família de Cannon se filiou à Igreja e emigrou para o Território de Utah.
Ela perdeu o pai e a irmã bebê ainda jovem, uma dificuldade que alguns historiadores acreditam que pode ter contribuído para o seu interesse pela Medicina.
Quando adolescente, ela trabalhou como tipógrafa para Emmeline B. Wells no Deseret News e no Women’s Exponent, um jornal para as mulheres.
Depois de terminar o curso de Química na Universidade de Deseret (renomeada Universidade de Utah em 1892), Cannon frequentou a Faculdade de Medicina na Universidade de Michigan, como a única mulher em uma turma de 75 alunos. Embora forçada a se sentar longe de seus colegas do sexo masculino para não os distrair, ela se formou em Medicina pela Universidade de Michigan em 1880 e se formou em Oratória pela Escola Nacional de Elocução e Oratória em 1882.
Após os estudos, Cannon voltou para Utah, onde se tornou a mais jovem cirurgiã-chefe do Hospital Deseret.
Durante esse período ela conheceu Angus Munn Cannon, membro do conselho do hospital, que já tinha três esposas e era mais de 20 anos mais velho que ela, e eles se apaixonaram e se casaram em segredo em 1884, devido à Lei Edmunds de 1882 [lei antipoligamia].
Seu marido acabou sendo preso e Cannon se escondeu, viajando uma grande distância com seu bebê, para evitar ser forçada a testemunhar contra ele e outras pessoas. Durante esse período desanimador, ela escreveu em uma carta: “O conhecimento de que este é o plano de Deus é a única coisa que me salva do desespero, e temo que quase da loucura.”
Eventualmente, Cannon retornou a Utah, abriu uma escola de treinamento para enfermeiras e deu continuidade ao seu consultório médico particular. Ela também se tornou uma defensora dos direitos das mulheres, como membro ativo da Associação pelo Sufrágio Feminino de Utah.
Cannon foi uma palestrante de destaque no Congresso de Mulheres da Exposição Mundial de Colúmbia de 1893, onde o jornal Chicago Record observou: “A Sra. Dra. Martha Hughes Cannon... é considerada uma das expoentes mais brilhantes da causa da mulher nos Estados Unidos.”
Em 1896, no mesmo ano em que Utah se tornou o 45º estado dos E.U.A., Cannon se envolveu na política e concorreu contra vários candidatos, incluindo seu marido e Wells, e venceu para se tornar a primeira mulher senadora estadual do país. Sua vitória ganhou atenção nacional.
“Martha é mais conhecida pela forma como usou sua voz política”, disse Clark.
Na legislatura, Martha defendeu os esforços para estabelecer um conselho estadual de saúde. Ela apresentou projetos de lei para estabelecer uma escola para surdos e cegos e exigir proteções básicas para funcionárias mulheres. Seu primeiro e único mandato foi produtivo e criou leis que continuam a influenciar Utah no século XXI.
O jornal Deseret News escreveu que “sua inteligência, pensamento rápido e conhecimento a tornaram capaz de se manter firme e representar seu sexo da maneira mais favorável.”
Cannon deu à luz um terceiro filho em 1899, uma controvérsia que gerou mais oposição antipoligamia. Os historiadores acreditam que isso pode ter influenciado sua decisão de não concorrer a um segundo mandato.
Em 1904, ela se mudou com os filhos para a Califórnia, onde trabalhou na Clínica Graves da Universidade da Califórnia, e atuou como vice-presidente do Congresso Americano para Tuberculose.
Ela morreu de câncer em 1932, aos 75 anos, e está enterrada em Salt Lake City.
Em uma carta a uma colega de turma da Faculdade de Medicina, Cannon escreveu: “Não desperdicemos nossos talentos no caldeirão do nada moderno, mas nos esforcemos para nos tornarmos mulheres de intelecto e para fazer algum bem, enquanto vivemos neste prolongado brilho, chamado vida.”
“Esta filosofia poética, seu exemplo e sua vida continuam a nos inspirar hoje”, disse Clark. “Embora ela tivesse apenas um metro e meio de altura, ela tinha um espírito intrépido. Ela era dinâmica, obstinada, ambiciosa, intensamente fiel, resiliente e visionária.”
Seu legado continua
O legado de Martha Hughes Cannon continua vivo.
Uma estátua de Cannon, de 2,30 metros de altura, será instalada em breve na National Statuary Hall Collection [Coleção do Salão Estatutário Nacional – em inglês], no Capitólio dos E.U.A., em Washington, D.C., onde será uma das duas estátuas que representam Utah.
“Este é um símbolo importante, não apenas para Utah, mas para a nação”, disse Clark.