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Entrevista com Élder Dallin H. Oaks e Élder Lance B. Wickman: “Atração por Pessoas do Mesmo Sexo”

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O contínuo debate público sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo suscitou muitas perguntas da imprensa, do público em geral e dos membros da Igreja em relação à posição de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias no tocante à questão do casamento especificamente e do homossexualismo em geral.

A seguinte entrevista foi realizada em 2006, com o Élder Dallin H. Oaks, membro do Quórum dos Doze Apóstolos da Igreja, e com o Élder Lance B. Wickman, membro dos Setenta. Esses líderes da Igreja responderam a perguntas de dois membros da equipe de Assuntos Públicos da Igreja. Segue-se a transcrição da entrevista para esclarecimento da posição da Igreja em relação a essas questões importantes, complexas e delicadas.

ASSUNTOS PÚBLICOS: Para começar, poderiam explicar por que toda essa questão do homossexualismo e do casamento entre pessoas do mesmo sexo é importante para a Igreja?

ÉLDER OAKS: Trata-se de algo bem mais amplo do que simplesmente questionar se a sociedade deve ou não ser mais tolerante em relação ao estilo de vida homossexual. Nos últimos anos, temos visto uma inexorável pressão por parte dos defensores desse estilo de vida no sentindo de que seja aceito como normal. O que não é normal é tachar de ultrapassados, fanáticos e intolerantes os que discordam. Esses defensores são rápidos em exigir liberdade de expressão e opinião para si, mas igualmente rápidos em criticar os que têm um ponto de vista diferente e até, se possível, silenciá-los, acusando-os, por exemplo, de “homofóbicos”. Existe pelo menos um país em que os ativistas homossexuais conquistaram concessões importantes, e vimos até um pastor de uma igreja ser ameaçado de prisão por pregar ao púlpito que o comportamento homossexual era pecaminoso. Diante dessas tendências, A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias precisou tomar uma posição referente à doutrina e ao princípio. É mais do que uma simples questão social — isso é algo que pode pôr em xeque a nossa mais básica liberdade religiosa de ensinar o que sabemos que o Pai Celestial deseja que ensinemos.

ASSUNTOS PÚBLICOS: Digamos que meu filho de 17 anos venha conversar comigo e, depois de muita relutância em se abrir, acabe me contando que acredita sentir-se atraído por homens — que não tem e nem nunca teve qualquer interesse por moças. Ele acredita que provavelmente é gay. Diz que tentou controlar esses sentimentos. Tem permanecido casto, mas percebe que seus sentimentos serão arrasadores para a família, porque sempre conversamos sobre sua pretendida missão na Igreja, sobre o casamento no templo e todas essas coisas. Ele simplesmente sente que não consegue viver mais o que acredita ser uma mentira, por isso veio falar comigo assim tão transtornado e deprimido. O que digo a ele como pai?

ÉLDER OAKS: Você é meu filho. Sempre será meu filho e sempre estarei ao seu lado para ajudá-lo.

A distinção entre sentimentos ou inclinações, por um lado, e comportamento, por outro, é muito clara. Não é pecado ter inclinações que, se fossem satisfeitas, resultariam num comportamento que seria uma transgressão. O pecado está em ceder à tentação. A tentação não se restringe a uns poucos. Até o Salvador foi tentado.

O Novo Testamento afirma que Deus nos deu mandamentos que são difíceis de cumprir. Está em I Coríntios, capítulo 10, versículo 13: “Não veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que não vos deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar”.

Acho que é importante que você compreenda que o homossexualismo, que você mencionou, não é um substantivo que descreve uma condição. É um adjetivo que descreve sentimentos ou um comportamento. Encorajo você, ao enfrentar esses desafios, a não pensar em si mesmo como “algo sem valor” ou “um certo tipo de pessoa”, mas, sim, lembrar que é membro de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias e é meu filho, e que está lutando contra esses desafios.

Todos têm desafios que precisam enfrentar. Você descreveu um tipo particular de desafio que é muito embaraçoso. É comum em nossa sociedade e também se tornou uma questão politizada. Mas é apenas um entre os muitos desafios que os homens e as mulheres precisam enfrentar, e simplesmente encorajo você a buscar a ajuda do Salvador para resistir à tentação e abster-se de adotar um comportamento que o obrigaria a se arrepender ou colocaria em risco sua condição de membro da Igreja.

ASSUNTOS PÚBLICOS: Se alguém tiver uma inclinação heterossexual muito forte, existe a oportunidade do casamento. Se um rapaz acha que é gay, o que estamos realmente dizendo a ele é que simplesmente não existe outra opção exceto o celibato pelo resto da vida, se ele não sentir nenhuma atração por mulheres?

ÉLDER OAKS: Isso é exatamente a mesma coisa que dizemos para muitos membros que não têm a oportunidade de casar-se. Esperamos o celibato de qualquer pessoa que não seja casada.

ÉLDER WICKMAN: Vivemos numa sociedade tão saturada com a sexualidade que talvez hoje seja mais problemático, devido a esse fato, a pessoa enxergar além de sua orientação sexual e ver outros aspectos de seu ser. Creio que eu diria a seu filho, ou a qualquer um que tenha essa preocupação, que ele procurasse expandir seus horizontes para além da sua orientação sexual. Encontre realização nas muitas outras facetas de seu caráter, de sua personalidade e de sua natureza, que vão muito além. Não se pode negar que a orientação sexual, sem dúvida, é uma característica essencial de qualquer pessoa, mas não é a única.

Além disso, o simples fato de ter inclinações não desqualifica uma pessoa para qualquer aspecto da participação na Igreja ou sua condição de membro, exceto talvez o casamento, como já foi dito. Mas até isso, na plenitude da vida como a compreendemos pela doutrina do evangelho restaurado, pode vir a tornar-se possível.

Nesta vida, coisas como o serviço na Igreja e o serviço missionário estão ao alcance de todos os que forem fiéis aos convênios e mandamentos.

ASSUNTOS PÚBLICOS: Então, vocês estão dizendo que os sentimentos homossexuais são controláveis?

ÉLDER OAKS: Sim, os sentimentos homossexuais são controláveis. Talvez haja uma inclinação ou susceptibilidade a esses sentimentos, que seja uma realidade para alguns, mas não para outros. Mas dessas susceptibilidades provêm sentimentos, e os sentimentos são controláveis. Se nutrirmos esses sentimentos, eles aumentarão o poder da tentação. Se cedermos à tentação, cometemos um ato pecaminoso. Esse padrão é o mesmo para a pessoa que cobiça a propriedade alheia e tem forte tentação de roubar. É o mesmo para a pessoa que desenvolve gosto pelas bebidas alcoólicas. É o mesmo para a pessoa que nasceu com o “pavio curto”, como chamamos a susceptibilidade para a raiva. Se elas deixarem que essa susceptibilidade permaneça descontrolada, ela se transformará em sentimento de ódio, e esse sentimento pode dar vazão a um comportamento pecaminoso e ilegal.

Não estamos falando de um desafio incomum. Estamos falando de uma condição comum da mortalidade. Não compreendemos exatamente o motivo ou a extensão das inclinações ou suscetibilidades e assim por diante. Mas sabemos que esses sentimentos podem ser controlados e o comportamento também. Há uma linha entre os sentimentos e o comportamento que delimita o pecado. Há uma linha entre a tendência e os sentimentos que delimita a prudência. Precisamos controlar nossos sentimentos para que não nos coloquemos em uma situação que nos leve a um comportamento pecaminoso.

ÉLDER WICKMAN: Creio que uma das grandes mentiras de nossa época é a de que simplesmente por termos uma inclinação para fazer alguma coisa, agir de acordo com essa inclinação é algo inevitável. Isso vai contra a nossa própria natureza, de acordo com o que o Senhor nos revelou. Temos o poder de controlar nosso comportamento.

ASSUNTOS PÚBLICOS: Se analisássemos a vida de alguém que tem “pavio curto” e víssemos que os seus pais também tinham “pavio curto”, poderíamos identificar nisso uma influência genética.

ÉLDER OAKS: Não, não aceitamos o pressuposto de que as pessoas já tenham nascido com uma natureza que as impede de atingir seu destino eterno sem que elas tenham a capacidade de controlá-la. Isso é contrário ao Plano de Salvação e é contrário à justiça e misericórdia de Deus. É contrário a todo o ensinamento do evangelho de Jesus Cristo, que expressa a verdade de que pelo poder e pela misericórdia de Jesus Cristo terão forças para fazer todas as coisas. Isso inclui resistir à tentação. Inclui lidar com coisas inatas, inclusive defeitos físicos ou deficiências mentais ou físicas. Nenhuma dessas coisas impede-nos de atingir nosso destino eterno. O mesmo se aplica a uma susceptibilidade ou inclinação a esta ou aquela conduta que, se fosse satisfeita, nos impediria de atingir nosso destino eterno.

ASSUNTOS PÚBLICOS: Você está dizendo que a Igreja não tem obrigatoriamente uma posição em relação à questão da “criação” ou “hereditariedade”?

ÉLDER OAKS: É aí que nossa doutrina entra em cena. A Igreja não tem uma posição sobre a causa de qualquer dessas susceptibilidades ou inclinações, inclusive as que se relacionam com a atração por pessoas do mesmo sexo. Essas são questões científicas — seja natureza ou herança —, e a Igreja não tem uma posição sobre essas coisas.

ÉLDER WICKMAN: Seja herança ou criação, estaremos fugindo do ponto importante, e a preocupação com essa dúvida pode, a meu ver, desviar-nos dos princípios que o Élder Oaks está descrevendo aqui. Por que alguém sente atração por pessoas do mesmo sexo? Ninguém sabe. Mas o que importa é o fato de que sabemos que podemos controlar nosso comportamento, e é isso que importa.

ASSUNTOS PÚBLICOS: Uma terapia de alguma espécie seria um curso de ação adequado se estivéssemos falando de controle do comportamento? Se o rapaz disser: “Eu quero realmente que esses sentimentos desapareçam... Faria qualquer coisa para que eles fossem embora”, seria adequado procurar uma terapia clínica de alguma espécie que abordasse essas questões?

ÉLDER WICKMAN: Bem, poderia ser adequado para essa pessoa procurar a terapia. Certamente a Igreja não desaconselha esse tipo de terapia. Mas, do ponto de um pai ou líder que está aconselhando uma pessoa, ou da própria pessoa que sente atração por pessoas do mesmo sexo e que se pergunta: “O que posso fazer a esse respeito que esteja de acordo com os ensinamentos do evangelho?” o aspecto clínico da questão não é a coisa mais importante. O que mais importa é o reconhecimento de que “Tenho vontade própria. Tenho meu arbítrio. Tenho dentro de mim o poder de controlar o que faço”.

Mas isso não quer dizer que seja inadequado que alguém que esteja sofrendo com isso procure a devida assistência médica para avaliar se, no seu caso, existe algo que possa ser feito a esse respeito. Essa é uma questão que os psiquiatras e psicólogos vêm debatendo. Creio que os estudos mostraram que, em alguns casos, houve progresso no sentido de ajudar a pessoa a mudar essa orientação; em outros, não. Do ponto de vista da Igreja, do nosso ponto de vista de preocupação com as pessoas, não é aí que colocamos nosso principal enfoque. Mas, sim nessas outras questões.

ÉLDER OAKS: Concordo plenamente. Gostaria de acrescentar mais alguns pensamentos. A Igreja raramente assume uma posição em relação a quais técnicas de tratamento são adequadas para os médicos, psiquiatras ou psicólogos e assim por diante.

O segundo ponto é que há práticas abusivas que foram usadas em relação a diversas atitudes mentais ou sentimentos. O uso excessivo de medicamentos para depressão é um exemplo que vem à mente. As terapias de aversão que foram usadas em relação à atração por pessoas do mesmo sexo incluíam alguns abusos graves que foram reconhecidos ao longo do tempo pelos profissionais. Embora não tenhamos uma posição a respeito de como os médicos devam agir (exceto em casos muito raros — como o aborto, por exemplo), estamos cientes de que existem abusos e não aceitamos a responsabilidade por esses abusos. Mesmo que tenham sido usadas para ajudar pessoas que gostaríamos que fossem ajudadas, não podemos endossar todo tipo de técnica que tem sido usada.

ASSUNTOS PÚBLICOS: O casamento heterossexual é uma opção para os que têm sentimentos homossexuais?

ÉLDER OAKS: Às vezes, as pessoas nos perguntam se o casamento é um remédio para esses sentimentos de que estamos falando. O Presidente Hinckley, ao ver que aparentemente algumas pessoas acreditavam que isso fosse um remédio e que alguns líderes da Igreja talvez tivessem inclusive aconselhado o casamento como remédio para esses sentimentos, fez a seguinte declaração: “O casamento não deve ser visto como medida terapêutica para resolver problemas como a inclinação ou a prática homossexual”. Para mim, isso significa que não vamos ficar calados e colocar em risco as filhas de Deus que estariam se casando com alguém sob falso pretexto ou desconhecendo certos fatos. As pessoas que têm esse tipo de desafio, e que não conseguem controlá-lo, não podem casar-se de boa-fé.

Por outro lado, as pessoas que foram purificadas de todas as transgressões e que demonstram ter capacidade de lidar com esses sentimentos ou essas inclinações, tornando-os latentes, e sentem grande atração por uma filha de Deus e, portanto, desejam casar-se e ter filhos e desfrutar as bênçãos da eternidade — essa é uma situação em que o casamento seria adequado.

O Presidente Hinckley disse que o casamento não é uma medida terapêutica para solucionar problemas.

ÉLDER WICKMAN: Uma pergunta que poderia ser feita por alguém que estivesse de debatendo com o desafio da atração por pessoas do mesmo sexo seria: “Isso é algo que terei de suportar para sempre? Que peso isso terá na vida eterna? Se de alguma forma eu conseguir perseverar nesta vida, quando eu surgir do outro lado, como serei?”

Felizmente, a resposta é que essa atração por pessoas do mesmo sexo não existia na vida pré-terrena nem existirá na vida futura. É uma circunstância que, seja qual for a sua razão ou origem, parece aplicar-se exclusivamente à vida mortal: o nanossegundo de nossa existência eterna.

As boas novas para alguém que esteja se debatendo com a atração por pessoas do mesmo sexo são estas: 1) Que ele não está preso a essa situação para sempre. Só por enquanto. Reconhecemos que, para todos nós, muitas vezes é difícil enxergar além do “agora”. Mesmo assim, se encaramos a mortalidade como agora, será somente por este período. 2) Se eu conseguir manter-me digno aqui, se eu conseguir ser fiel aos mandamentos do evangelho, se eu conseguir manter os convênios que fiz, as bênçãos da exaltação e vida eterna que o Pai Celestial reservou para todos os Seus filhos se aplicam a mim. Todas as bênçãos — inclusive o casamento eterno — serão minhas no devido tempo.

ÉLDER OAKS: Gostaria de acrescentar um pensamento. Não há plenitude de alegria na vida futura sem uma unidade familiar, que inclua o marido, a esposa e uma posteridade. Além disso, os homens existem para que tenham alegria. Na perspectiva eterna, a atividade sexual homossexual só resultará em tristeza, pesar e perda de oportunidades eternas.

ASSUNTOS PÚBLICOS: Há pouco, Élder Oaks, você mencionou que existe o mesmo padrão de moralidade para heterossexuais e homossexuais. O que você diria para alguém que perguntasse: “Sei que o padrão é o mesmo, mas será que não estamos pedindo um pouco mais dos que sentem atração por pessoas do mesmo sexo?” Obviamente há pessoas heterossexuais que não se casarão, mas você concorda que ao menos elas tenham a esperança de que “talvez amanhã eu encontre a pessoa de meus sonhos”? Sempre há esperança de que isso aconteça em algum momento da vida. Alguém que sente atração por pessoas do mesmo sexo não terá necessariamente essa mesma esperança.

ÉLDER OAKS: Há diferenças, evidentemente, mas o contraste não é exclusivo. Há pessoas com deficiências físicas que as impedem de ter qualquer esperança — em alguns casos, nenhuma esperança real e, em outros, nenhuma esperança prática — de casamento. A situação de não poder casar-se atualmente, embora trágica, não é exclusiva.

Às vezes, diz-se que Deus não poderia discriminar pessoas nessas circunstâncias. Mas a vida está cheia de enfermidades físicas que alguns podem ver como discriminação — paralisia total ou grave deficiência mental são duas coisas relevantes para o casamento. Se acreditarmos em Deus e em Sua misericórdia e justiça, não se pode dizer que se trata de discriminação, porque Deus não discrimina ninguém. Não estamos em condições de julgar o que seria uma discriminação. Depositamos nossa fé em Deus e nossa absoluta certeza de Sua misericórdia e Seu amor por todos os Seus filhos.

ÉLDER WICKMAN: Sem dúvida existe uma angústia associada à incapacidade de casar nesta vida. Sentimos muito pelas pessoas que sofrem com isso. Sinto imensamente por todos que têm essa angústia. Mas isso não se limita às pessoas que sentem atração por pessoas do mesmo sexo.

Vivemos numa era de egocentrismo. Creio que é natural para o ser humano pensar que seus próprios problemas são maiores do que os dos outros. Creio que, se alguém começa a pensar assim, seria bom que começasse a olhar para além de si mesmo. Quem sou eu para dizer que sou mais limitado ou que sofro mais do que os outros?

Eu tenho uma filha deficiente. Ela é uma moça muito bonita. Estará fazendo 27 anos na próxima semana. Seu nome é Courtney. Courtney nunca vai se casar nesta vida, embora fique triste ao ver os outros que podem casar-se. Ela fica parada junto à janela de meu escritório, que tem vista para o Templo de Salt Lake, olhando para as noivas e os noivos enquanto tiram fotografias. Ela fica encantada e triste com isso, porque Courtney sabe que não terá essa experiência nesta vida. Courtney não pediu para nascer como nasceu nesta vida, tal como acontece com alguém que sente atração por pessoas do mesmo sexo. Portanto, há muitos tipos de angústias que as pessoas podem sentir, mesmo as exclusivamente relacionadas à questão do casamento. Nossa esperança e a grande promessa do evangelho é que, sejam quais forem nossas inclinações aqui, sejam quais forem nossas deficiências aqui, sejam quais forem os obstáculos que nos impeçam de desfrutar a plenitude da alegria aqui, temos a garantia do Senhor para todos de que, no devido tempo, essas coisas serão removidas. Simplesmente precisamos nos manter fiéis.

ASSUNTOS PÚBLICOS: Élder Wickman, quando você se referiu anteriormente ao serviço missionário, você disse que essa seria uma possibilidade para alguém que sinta atração por pessoas do mesmo sexo, mas não a coloque em prática. O Presidente Hinckley disse que, se as pessoas forem fiéis, elas podem prosseguir como qualquer outra pessoa na Igreja e ter plena participação. O que isso realmente significa? Significa serviço missionário? Significa que uma pessoa pode ir ao templo, ao menos para os sacramentos que não envolvam o casamento? Isso realmente significa que alguém com atração por pessoas do mesmo sexo, desde que seja fiel, tem todas as oportunidades de participar, de ser chamado para servir, de fazer todas as coisas que todas as outras pessoas podem fazer?

ÉLDER WICKMAN: Creio que a resposta para isso é sim! Gostaria que o Élder Oaks especificasse melhor.

ÉLDER OAKS: O Presidente Hinckley nos ajudou nesse assunto com uma clara declaração que responde a todas as perguntas dessa natureza. Ele disse: “Nós os amamos (referindo-se às pessoas com atração homossexual), como filhos e filhas de Deus. Eles podem ter certas inclinações que são muito fortes e de difícil controle. Se não colocarem em prática essas inclinações, então poderão seguir adiante como todos os outros membros da Igreja”.

Para mim, isso significa que uma pessoa com essas inclinações, desde que mantidas sob controle, ou, se houver o devido arrependimento caso tenha havido transgressão, está qualificada para fazer qualquer coisa na Igreja que possa ser feita por qualquer outro membro solteiro da Igreja. Ocasionalmente, há um ofício, como o de bispo, em que a pessoa tem que ser casada. Mas isso é a exceção na Igreja. Todo cargo de ensino, todo cargo missionário pode ser ocupado por uma pessoa solteira. Aceitamos de braços abertos, para esse tipo de serviço, as pessoas que estão se debatendo com todo o tipo de tentação, desde que estejam vencendo a luta e vivendo de modo a ser um bom professor, missionário ou que exerçam qualquer outro chamado.

ÉLDER WICKMAN: Acaso não é esse realmente o significado da Expiação na vida de uma pessoa? A Expiação não começa realmente a significar algo para uma pessoa quando ela está procurando vencer os desafios da vida, sejam tentações ou limitações? A disposição de voltar-se ao Salvador, a oportunidade de ir à reunião sacramental no domingo e realmente participar da ordenança do sacramento (…), ouvir as orações e partilhar dos emblemas sagrados. Essas são oportunidades que realmente nos ajudam a entrar na esfera de influência da Expiação do Salvador. Com essa perspectiva, toda oportunidade de servir na Igreja é uma bênção. Como foi mencionado, há um número relativamente pequeno de chamados na Igreja que exigem o casamento.

ÉLDER OAKS: Há outro ponto a ser acrescentado aqui, e isso decorre de uma declaração recente da Primeira Presidência, que é uma descrição maravilhosa de nossa atitude em relação a esse assunto: “Nós, de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, estendemos a mão para as pessoas que se sentem atraídas por outras do mesmo sexo. Sabemos que pode haver grande solidão em sua vida, mas também deve haver reconhecimento do que é certo perante o Senhor”.

ASSUNTOS PÚBLICOS: O que vocês diriam aos membros da sociedade e aos membros da Igreja que podem considerar a atração homossexual como uma coisa diferente das outras tentações ou de qualquer outro desafio que as pessoas enfrentam? Acima de tudo, vocês acham que é justo que algumas pessoas tenham esse sentimento? O que vocês diriam a elas?

ÉLDER OAKS: Creio que é correto dizer que algumas pessoas consideram a atração por pessoas do mesmo sexo como o fato que define sua existência. Há também as que consideram o fato que define sua existência ter nascido no Texas, ou ser fuzileiro naval dos Estados Unidos. Ou ter o cabelo ruivo, ou ser o melhor jogador de basquete que jogou em determinada escola. As pessoas podem adotar uma característica como o aspecto que define sua existência, e frequentemente essas características são físicas.

Temos o arbítrio para escolher quais características vão nos definir; essas escolhas não nos são impostas.

O fato mais importante que define todos nós é que somos filhos de Pai e Mãe Celestes, nascidos na Terra com um propósito e com um destino divino. Sempre que qualquer dessas outras ideias, sejam quais forem, tiverem prioridade em relação a esse fato mais importante, isso será destrutivo e nos conduzirá ao caminho errado.

ASSUNTOS PÚBLICOS: Vocês dois mencionaram que é preciso compaixão e o sentimento de ser compassivo. Vamos adiantar a situação que ilustramos anteriormente e imaginar que se tenham passado alguns anos. Minhas conversas com meu filho, todo nosso empenho em amá-lo e mantê-lo na Igreja fracassaram em resolver o que ele considera a questão central — que ele não consegue mudar seus sentimentos. Agora ele nos diz que está saindo de casa. E que planeja morar com um amigo gay. Está decidido a esse respeito. Qual deve ser a resposta adequada de um pai ou mãe santo dos últimos dias nessa situação?

ÉLDER OAKS: A meu ver, o pai ou a mãe santo dos últimos dias tem a responsabilidade de declarar, com amor e bondade, que o Senhor ensinou por meio de Seus profetas que o curso de ação que ele está prestes a tomar é pecaminoso. Ao mesmo tempo em que expressamos constante amor por ele e afirmarmos que a família sempre estará de braços abertos para ele, creio que seria bom ler com ele algo como esta declaração da Primeira Presidência, de 1991: “A lei de conduta moral do Senhor é a de abstinência fora do casamento legal e fidelidade no casamento. As relações sexuais só são permitidas entre marido e mulher, dentro dos laços do matrimônio. Qualquer outra conduta sexual, inclusive fornicação, adultério e relações homossexuais ou lésbicas são pecaminosos. Aqueles que persistirem nessas práticas ou influenciarem outros a fazê-lo estão sujeitos à ação disciplinar da Igreja”.

Minha primeira responsabilidade como pai é certificar-me de que ele compreenda isso, e então dizer: “Meu filho, se você decidir assumir deliberadamente esse tipo de comportamento, ainda assim você é meu filho. A Expiação de Jesus Cristo é suficientemente poderosa para agir sobre você e purificá-lo se você se arrepender e abandonar sua conduta pecaminosa, mas peço que não siga esse caminho porque o arrependimento não será fácil. Você está adotando um curso de ação que enfraquecerá sua capacidade de se arrepender. Isso pode prejudicar sua percepção do que é importante na vida. Por fim, isso pode arrastá-lo para tão longe que você não conseguirá voltar. Não faça isso! Mas, se escolher seguir por esse caminho, sempre tentaremos ajudá-lo e fazer com que volte à senda do crescimento”.

ÉLDER WICKMAN: Uma das maneiras de ler o Livro de Mórmon é como um livro de encontros entre pais e filhos. Alguns desses encontros foram muito positivos e edificantes por parte do pai. Outros foram ocasiões em que um pai teve que dizer ao filho ou aos filhos que o caminho que estavam seguindo era incorreto perante o Senhor. E tudo precisa ser feito com amor e aceitação, como o Élder Oaks mencionou, no espírito de: “Você sempre será meu filho”. Há um velho ditado que realmente é verdadeiro para todos os pais: “Você não fracassou até que desista de tentar”. Creio que isso significa aproveitar todas as boas oportunidades para ensinar aos filhos o caminho certo, mas sempre se certificando de que eles saibam que você os ama, em quaisquer circunstâncias.

ASSUNTOS PÚBLICOS: Em que ponto essa expressão de amor passa do limite e inadvertidamente se transforma em aprovação de um comportamento? Se o filho disser: “Ora, se você me ama, então posso trazer meu companheiro para visitá-los aqui em casa? Podemos passar os feriados aqui?” Como você equilibra isso em relação a, por exemplo, preocupação com os outros filhos que moram com vocês?

ÉLDER OAKS: Essa é uma decisão que precisa ser tomada somente pela pessoa responsável, buscando a inspiração do Senhor. Posso imaginar que, na maioria das situações, os pais diriam: “Por favor, não faça isso. Não nos coloque nessa situação”. Sem dúvida, se houver filhos no lar que seriam influenciados por esse exemplo, a resposta provavelmente seria essa. Também há outros fatores que tornariam essa a resposta mais provável.

Posso imaginar algumas situações em que seria possível dizer: “Sim, venham, mas não esperem passar a noite aqui. Não espere que ele passe muito tempo aqui em casa. Não espere que saiamos com vocês e os apresentemos a nossos amigos, ou que adotemos em público uma postura que indique nossa aprovação de seu ‘relacionamento’”.

As situações são variadas, por isso é impossível dar uma resposta que se encaixe em todas.

ÉLDER WICKMAN: É difícil imaginar uma situação mais difícil para um pai ou uma mãe enfrentar do que essa. Depende de cada caso. A única coisa que eu acrescentaria ao que o Élder Oaks acabou de dizer é que acho importante que o pai ou a mãe evitem cair na potencial armadilha que a angústia pode criar.

Refiro-me a deixar de defender o modo de agir do Senhor e passar a defender o estilo de vida de um filho errante, tanto perante ele quanto perante os outros. É verdade que o modo de agir do Senhor é amar o pecador e condenar o pecado. Isso significa continuar a abrir nosso lar, nosso coração e nossos braços para nossos filhos, mas não obrigatoriamente aprovar seu estilo de vida. Tampouco significa que precisemos ficar constantemente dizendo a eles que o seu estilo de vida é impróprio. Um erro ainda maior seria passar a defender o filho, porque isso não ajuda nem o filho nem os pais. Esse curso de ação, como mostra a experiência, pode conduzir ambos para longe do caminho do Senhor.

ÉLDER OAKS: A Primeira Presidência fez uma maravilhosa declaração sobre esse assunto numa carta de 1991. Falando das pessoas e famílias que enfrentam esse tipo de problema, eles disseram: “Incentivamos os líderes e os membros da Igreja a apoiarem com amor e compreensão os que enfrentam esses problemas”. Sem dúvida, se fomos aconselhados como membros da Igreja a apoiar com amor e compreensão os que estão nessas “condições”, essa obrigação é particularmente maior para os que têm filhos que enfrentam essas questões (…), até mesmo os filhos que estão envolvidos em conduta pecaminosa associada a esse assunto.

ASSUNTOS PÚBLICOS: Rejeitar o filho, até certo ponto, seria uma reação natural de alguns pais, sempre que este deixasse de cumprir as expectativas deles? Seria mais fácil “fechar a janela” para uma questão do que lidar com ela?

ÉLDER OAKS: Certamente incentivamos os pais a não se culparem e os membros da Igreja a não culparem os pais nessas situações. Devemos lembrar que nenhum de nós é perfeito e nenhum de nós tem filhos cujo comportamento está inteiramente de acordo com o que deve ser feito em todas as circunstâncias.

Sentimos grande compaixão pelos pais cujo amor e instinto de proteção a seus filhos com dificuldades os levaram a adotar uma posição contrária à Igreja. Espero que o Senhor seja misericordioso com os pais que, por amor aos filhos, caíram nessas armadilhas.

ASSUNTOS PÚBLICOS: Vamos adiantar o tempo novamente. Meu filho agora parou completamente de ir à Igreja. Parece não haver probabilidade de que ele volte. Agora ele me diz que está planejando ir para o Canadá, onde é permitido o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Ele está obstinado por concordar que os relacionamentos matrimoniais amorosos são importantes. Ele não é promíscuo; tem um único relacionamento. Ele e seu companheiro pretendem ter um relacionamento para toda a vida. Ele não consegue compreender por que um compromisso para a vida inteira não seja aceito pela Igreja se a sociedade parece estar adotando essa tendência. Novamente, se sou um pai santo dos últimos dias fiel, o que se espera que eu diga a ele?

ÉLDER WICKMAN: Para começar, o casamento não é uma questão política e tampouco de normas sociais. O casamento foi definido pelo próprio Senhor. É uma instituição que é realizada de modo cerimonial pela autoridade do sacerdócio no templo [e] transcende este mundo. Tem profunda importância (…), uma doutrina básica do evangelho de Jesus Cristo, tem a ver com o propósito da criação desta Terra. É difícil que uma pessoa passe da primeira página de Gênesis sem perceber isso muito claramente. Não é uma instituição que possa ser alterada pela humanidade e, sem dúvida, não pode ser alterada por aqueles que estão fazendo isso simplesmente para defender seus interesses. Não existe, aos olhos do Senhor, o casamento entre pessoas do mesmo sexo. O comportamento homossexual é e sempre será um pecado abominável perante o Senhor. Chamá-lo de outra coisa devido a uma definição política não altera essa realidade.

ÉLDER OAKS: Outra maneira de dizer a mesma coisa é que o Parlamento do Canadá e o Congresso em Washington não têm autoridade para revogar os mandamentos de Deus nem modificá-los ou alterá-los de qualquer maneira.

ASSUNTOS PÚBLICOS: Em alguns sites gays, há pessoas que alegam que o comportamento homossexual não é especificamente proibido na Bíblia, particularmente no Novo Testamento. Alguns argumentam que a compaixão e o amor de Jesus Cristo pela humanidade abrangem esse tipo de relacionamento. Qual é o ensinamento da Igreja a esse respeito?

ÉLDER WICKMAN: Aqueles que afirmam isso precisam ler a Bíblia com mais atenção. Além disso, seria como comparar maçãs com laranjas, confundir o amor que o Salvador expressou por toda a humanidade, por toda pessoa, por todo homem, por toda mulher e criança com a doutrina relacionada ao casamento.

De fato, o Salvador fez uma declaração a respeito do casamento, embora num contexto um pouco diferente. Jesus disse: “Por isso deixará o homem a seu pai e sua mãe, e unir-se-á a sua mulher, e serão os dois uma carne. (…) Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem”.

Geralmente pensamos nessa expressão no contexto de duas pessoas casadas, um homem e uma mulher e que não seria apropriado alguém tentar separá-los. Creio que isso pode ter um significado mais amplo em termos de doutrina. O casamento de um homem com uma mulher está bem claro no ensinamento bíblico do Velho Testamento, bem como no ensinamento do Novo [Testamento]. Todos os que procuram desvirtuar esse conceito estão também contradizendo o que o próprio Jesus disse. É importante ter em mente a diferença entre o amor de Jesus e Sua definição de doutrina, assim como a definição de doutrina que veio por meio dos apóstolos e profetas do Senhor Jesus Cristo, tanto no passado como nos tempos modernos.

ASSUNTOS PÚBLICOS: E quanto aos que poderiam dizer: “Está bem. Os santos dos últimos dias têm o direito de acreditar no que quiserem. Se vocês não acreditam no casamento entre pessoas do mesmo sexo, tudo bem para vocês. Mas, por que tentar regulamentar o comportamento de outras pessoas que nada têm a ver com sua fé, especialmente se alguns países da Europa sancionaram legalmente esse tipo de casamento? Por que não dizer apenas: ‘Não concordamos com isso doutrinariamente para nosso próprio povo’ e deixar as coisas assim? Por que lutar para conseguir uma emenda constitucional [nos Estados Unidos], por exemplo?”

ÉLDER WICKMAN: Não estamos tentando regulamentar a vida das pessoas, mas esse conceito de que “o que acontece na sua casa não afeta o que acontece na minha” em relação à questão da instituição do casamento talvez seja a maior mentira dos que defendem o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Algumas pessoas defendem a ideia de que pode haver dois tipos de casamento, coexistindo lado a lado, um heterossexual e outro homossexual, sem nenhuma consequência adversa. A dura realidade é que, como instituição, o casamento, como todas as outras instituições, só pode ter uma definição, sem que altere o próprio caráter da instituição. Portanto não pode haver coexistência de dois tipos de casamento. Ou existe o casamento como ele agora é definido e como foi definido pelo Senhor, ou então existe o que poderia ser descrito como um casamento sem definição de sexo. Esse último é uma abominação para Deus. Como mencionamos, Ele próprio descreveu o que é o casamento — entre um homem e uma mulher.

Uma redefinição dessa instituição, portanto, redefine-a para todos — não apenas para os que estão procurando adotar um assim chamado casamento entre pessoas do mesmo sexo. Isso também ignora a definição que o próprio Senhor deu.

ÉLDER OAKS: Há outro ponto a ser abordado aqui. Não esqueçamos de que, por milhares de anos, a instituição do casamento tem sido entre um homem e uma mulher. Até bem recentemente, em um número limitado de países, não havia casamento entre pessoas do mesmo sexo. De repente, vemos alegações de que milhares de anos de experiência humana devem ser deixados de lado, porque não deve haver discriminação em relação à instituição do casamento. Quando se faz essa alegação, a responsabilidade de provar que essa medida não destruirá a sabedoria e a estabilidade de milênios de experiência deve recair sobre os ombros dos que desejam fazer essa mudança. Mas a pergunta feita e a questão levantada são propostas como se aqueles que acreditam no casamento entre um homem e uma mulher tivessem a responsabilidade de provar que isso não deva ser ampliado para outro conjunto de condições.

ASSUNTOS PÚBLICOS: Há os que dizem que isso se aplica melhor à década de 1950 ou bem antes disso, e não no século XXI. Se considerarmos vários países da Europa, por exemplo, o casamento tradicional está em um declínio tão acelerado que já deixou de ser a norma. Se o casamento está se transformando, será que devemos resistir a esse tipo de mudança social?

ÉLDER OAKS: Esse argumento me parece semelhante ao fato de que, se concordarmos que o paciente está doente e ficando pior, então devemos aprovar a eutanásia. A eutanásia, que encerra completamente a vida do paciente, é equivalente à modificação drástica na instituição do casamento que resultaria do casamento entre pessoas do mesmo sexo.

ASSUNTOS PÚBLICOS: Vocês falaram dos males que podem advir sobre a sociedade por causa da redefinição do casamento. O que vocês diriam às pessoas que afirmam: “Conheço pessoas gays que mantêm um relacionamento comprometido há muito tempo. São pessoas excelentes. Elas se amam. Que mal poderia fazer a meu casamento heterossexual permitir-lhes o mesmo rito?”

ÉLDER WICKMAN: Gostaria de repetir o que disse há pouco. Creio que esse argumento seja um verdadeiro sofisma, porque o casamento é uma instituição unificada. O casamento significa um relacionamento comprometido e legalmente sancionado entre um homem e uma mulher. É isso que ele significa. É isso que ele significa nas revelações. É isso que ele significa na lei secular. Não se pode ter esse casamento coexistindo institucionalmente com outra coisa chamada casamento entre pessoas do mesmo sexo. Isso é simplesmente uma impossibilidade por definição. No momento em que você, como uma instituição, começa a reconhecer um relacionamento legalmente sancionado, um relacionamento comprometido entre duas pessoas do mesmo sexo, está então redefinindo a instituição como um casamento sem definição de sexo.

Como mencionamos em resposta a outras perguntas, [o casamento homossexual] é contrário à lei de Deus, à Palavra revelada. As escrituras, antigas e modernas, não poderiam deixar mais clara a definição que o Senhor e Seus representantes deram ao casamento ao longo das dispensações.

Mas isso tem uma repercussão muito profunda em termos seculares para todos. O que acontece na casa de alguém no fim da rua exerce realmente uma influência no que acontece em minha casa e em como a questão é tratada. Sugerir que diante desses milênios de história e revelações de Deus e de todo o padrão humano eles têm o direito de redefinir a instituição inteira para todos é extrema presunção e um terrível desvio do rumo correto.

ÉLDER OAKS: Outro ponto a ser abordado é uma pergunta. Se um casal que coabita feliz e comprometido mutuamente quiser que seu relacionamento se chame casamento, por que eles querem que isso aconteça? Considerando o que eles dizem ter, por que desejariam acrescentar a isso à condição legal de casamento honrado e consagrado há milhares de anos? O que desejam aqueles que defendem o casamento homossexual? Se isso pudesse ser articulado em outra base que não seja a discriminação, que não é um argumento muito bom, seria mais fácil responder a pergunta que você fez e creio que revelaria a sensatez do que já dissemos.

Há certos indicadores de casamento — determinadas consequências legais e sociais e uma legitimidade — que, se forem dadas a algum relacionamento que não seja o casamento entre um homem e uma mulher, tendem a degradar ou mesmo destruir a instituição que vem sendo honrada há tantos milhares de anos.

Além disso, se as pessoas quiserem legalizar um determinado relacionamento, precisamos tomar cuidado, caso esse tipo de relacionamento tenha sido desaprovado durante milhares de anos. De repente, há um empenho para legalizá-lo para que as pessoas se sintam melhor em relação a si mesmas. Esse argumento prova bem pouco. Suponha que uma pessoa esteja ganhando dinheiro de modo ilegal, mas se sinta incomodada com isso. (Poderia ser um ladrão profissional ou talvez esteja prestando serviços ilegais, ou seja, o que for.) Será que legalizaríamos esse comportamento porque essa pessoa está sendo discriminada em sua escolha profissional, ou porque ela não se sente bem com o que está fazendo e quer “sentir-se bem” ou deseja que seu comportamento seja legitimado aos olhos da sociedade ou de sua família? Creio que a resposta é que não legalizamos um comportamento por esses motivos a menos que surjam razões muito persuasivas para que a situação atual seja alterada.

ASSUNTOS PÚBLICOS: Vocês aplicariam esse mesmo argumento contra a união civil entre pessoas do mesmo sexo ou algum tipo de benefício que não seja o casamento?

ÉLDER WICKMAN: Uma forma de pensar no casamento é como um conjunto de direitos associados ao fato de duas pessoas estarem casadas. O que a Primeira Presidência fez foi expressar seu apoio ao casamento e a esse conjunto de direitos que pertencem a um homem e a uma mulher. A Primeira Presidência não se expressou a respeito de nenhum direito específico. Não importa na verdade o nome que se dê a isso. Se houver um relacionamento legalmente sancionado com um conjunto de direitos legais tradicionalmente pertencentes ao casamento, e se a autoridade governante deu nome a isso, seja uma união civil ou coabitação ou qualquer outro nome, isso equivale a um casamento. Isso é algo contra o que a nossa doutrina exige que nos manifestemos, dizendo: “Não está certo. É impróprio”.

Quanto a algo menor que isso — um relacionamento que conceda a duas pessoas de nossa sociedade direitos associados ao casamento, mas não todos —, pelo que sei, a Primeira Presidência não se manifestou a esse respeito. Há vários tipos diferentes de acordos ou contratos que podem existir na sociedade que não são um casamento entre pessoas do mesmo sexo e que proporcionam alguns direitos aos quais não fazemos nenhuma objeção. Tendo dito isso (…), pode ser que haja situações em que nos preocuparíamos se alguns direitos específicos fossem concedidos a participantes de um relacionamento entre pessoas do mesmo sexo. A adoção é algo que me vêm à mente, simplesmente porque esse é um direito que tem sido histórica e doutrinariamente associado de modo íntimo ao casamento e à família. Cito o exemplo da adoção, porque simplesmente ele tem a ver com a geração e a criação de filhos. Nossos ensinamentos, conforme recentemente declarados em termos doutrinários bem abrangentes na Proclamação sobre a Família pelos profetas e apóstolos vivos, são que os filhos merecem ser criados em um lar com um pai e uma mãe.

ASSUNTOS PÚBLICOS: Em relação à questão de uma emenda constitucional proibindo o casamento entre pessoas do mesmo sexo, há santos dos últimos dias que se opõem ao casamento homossexual, mas que não apoiam essa emenda constitucional. Por que a Igreja sentiu que devia intervir nesse sentido?

ÉLDER OAKS: A lei tem pelo menos dois papéis: um deles é o de definir e regulamentar os limites do comportamento aceitável. O outro é ensinar princípios para que as pessoas façam escolhas individuais. A lei declara inaceitáveis algumas coisas que simplesmente não podem ser impostas às pessoas, e não há promotor que tente aplicá-las. Referimo-nos a esses conceitos como a função didática da lei. Chegamos a uma época em nossa sociedade em que consideramos haver grande sabedoria e propósito numa emenda constitucional nos Estados Unidos que declare que o casamento deve ser entre um homem e uma mulher. Nada há nessa emenda proposta que exija um processo criminal ou que instrua os promotores públicos a saírem prendendo as pessoas, mas ela declara um princípio e também cria uma barreira defensiva contra os que desejam alterar essa definição tradicional do casamento.

Há pessoas que se opõem a uma emenda na constituição federal porque acham que a lei concernente à família deve ser feita pelos Estados. Posso ver um argumento legítimo nisso. No entanto, acho que está equivocado, porque o governo federal, por meio das decisões de juízes federais vitalícios, já assumiu o controle dessa questão. Essa emenda constitucional é uma medida defensiva contra aqueles que desejam ignorar a vontade devidamente expressa dos Estados e exigir, como questão de lei federal, o reconhecimento do casamento entre pessoas do mesmo sexo — ou a invalidação das leis estaduais que exijam que o casamento seja entre um homem e uma mulher. Em resumo, a Primeira Presidência manifestou-se a favor de uma emenda (que pode ou não ser adotada) em apoio à função didática da lei. Essa emenda seria uma expressão muito importante de uma norma pública, que seria levada em consideração nas decisões de juízes de todo o país.

ÉLDER WICKMAN: Gostaria de acrescentar algo, se puder. Não foi a Igreja que tornou a questão do casamento uma questão de lei federal. Aqueles que estão vigorosamente defendendo o que eles chamam de casamento entre pessoas do mesmo sexo foram os que essencialmente levantaram essa questão. Foram eles que criaram uma situação na qual a lei do país, de uma maneira ou de outra, terá que abordar a questão do casamento. Não se trata de uma situação em que a Igreja tenha escolhido levar o assunto à arena legal ou à arena política. Ela já estava lá.

A verdade é que a melhor maneira de assegurar que a definição de casamento que hoje existe continue a existir é colocá-la num documento legal fundamental dos Estados Unidos. Esse documento é a Constituição. É nesse nível que a batalha está sendo travada. No final, é nesse nível que a batalha será decidida. Ela será decidida como uma questão de lei federal, de um modo ou de outro. Consequentemente, não se trata um campo de batalha legal que os santos dos últimos dias tenham escolhido, mas ele já foi determinado e temos pouca escolha a não ser expressar nosso ponto de vista a respeito, que foi na verdade tudo o que a Igreja fez.

Mas mesmo as decisões dos membros da Igreja sobre o que devem fazer a respeito dessa questão, evidentemente, devem ficar a critério de cada um deles como cidadãos.

ASSUNTOS PÚBLICOS: Deu-se ênfase constante ao casamento tradicional entre um homem e uma mulher durante toda a conversa. Vocês percebem a ironia no fato de que a Igreja esteja se expressando publicamente sobre essa questão, ao mesmo tempo em que na mente de tantas pessoas nos Estados Unidos e no mundo inteiro a Igreja seja conhecida por ter apoiado certa vez um casamento bem pouco tradicional, ou seja, a poligamia?

ÉLDER OAKS: Percebo a ironia, se não levarmos em conta a crença que afirmamos ter na revelação divina. Os mórmons do século XIX, inclusive alguns de meus antepassados, não estavam ansiosos em praticar o casamento plural. Eles seguiram o exemplo de Brigham Young, que expressou seus profundos sentimentos negativos quando esse princípio lhe foi revelado pela primeira vez. Os mórmons do século XIX que praticaram o casamento plural, homens e mulheres, fizeram isso porque sentiam que era um dever que lhes havia sido imposto por Deus.

Quando esse dever foi retirado, eles foram instruídos a obedecer à lei do país, cuja proibição tinha sido considerada constitucional. Quando lhes foi dito que parassem de praticar o casamento plural, provavelmente houve aqueles que ficaram descontentes, mas creio que a maioria sentiu um grande alívio e ficou contente em voltar a praticar o que era mais comum na civilização ocidental, ou seja, o casamento entre um homem e uma mulher. Em resumo, se levarmos em conta a crença na revelação contínua, na qual esta Igreja está alicerçada, então podemos ver que não há ironia alguma. Mas, se não levarmos isso em consideração, veremos uma grande ironia.

ASSUNTOS PÚBLICOS: E quanto aos vários tipos de grupos de apoio aos que sentem atração por pessoas do mesmo sexo?

ÉLDER WICKMAN: Creio que não incentivamos nem desencorajamos esses grupos, mas isso depende muito da natureza deles. Certamente desencorajamos as pessoas a participarem de qualquer grupo ou organização que promova a adoção de um estilo de vida homossexual.

Por fim, o curso de ação mais sensato para qualquer um que sinta atração por pessoas do mesmo sexo é ampliar o seu horizonte além de somente sua orientação sexual e tentar se ver como uma pessoa completa. Se eu fosse alguém que sentisse atração por pessoas do mesmo sexo, eu me esforçaria para ver-me num contexto muito mais amplo (…), ver-me com um filho de Deus, com sejam quais forem os meus talentos, minha inteligência, meus dons musicais ou esportivos, ou alguém que tenha compaixão para ajudar as pessoas, ver-me num contexto muito maior e assim contemplar minha vida dessa perspectiva.

Quanto mais a pessoa olhar além da sua orientação sexual, mais feliz e satisfatória provavelmente será a sua vida. A pior coisa para qualquer um de nós — sejam quais forem nossas tentações ou inclinações mortais — é fixar-nos nelas, apegar-nos a elas. Quando fazemos isso, não apenas negamos as outras coisas que são parte de nós, mas a experiência mostra que haverá maior probabilidade de que simplesmente sucumbamos a essa inclinação.

ÉLDER OAKS: O princípio mencionado pelo Élder Wickman, em resumo, é que, se você está tentando conviver com a atração por pessoas do mesmo sexo e não quer se deixar dominar por ela, o melhor modo de fazer isso é participar de grupos que definam seus membros em outros termos que não sejam a atração por pessoas do mesmo sexo.

ASSUNTOS PÚBLICOS: Se vocês tivessem que descrever essa questão imensamente complexa em alguns princípios básicos, quais seriam eles?

ÉLDER OAKS: Deus ama todos os Seus filhos. Ele proveu um plano para que Seus filhos desfrutem as bênçãos mais especiais que Ele tem a oferecer na eternidade. Essas bênçãos especiais estão associadas ao casamento entre um homem e uma mulher pela devida autoridade do sacerdócio a fim de unir a família, para a criação e felicidade nesta vida e na vida futura.

Instamos as pessoas que sentem atração por pessoas do mesmo sexo a controlá-la e abster-se de colocá-la em prática, o que seria um pecado, tal como instamos as pessoas com atração heterossexual a manter-se castos até depois do casamento reconhecido por Deus e pela lei da terra. Esse é o caminho para a felicidade e a vida eterna. Deus não nos deu nenhum mandamento para o qual não nos tenha dado forças e a capacidade de obedecê-lo. Esse é o plano de salvação para Seus filhos, e é nosso dever proclamar esse plano, ensinar sua verdade e louvar a Deus pela missão de Seu Filho Jesus Cristo. É a Expiação de Cristo que nos possibilita sermos perdoados de nossos pecados e é Sua Ressurreição que nos dá a certeza da imortalidade e da vida futura. E é essa vida futura que orienta nossa visão da mortalidade e reforça nossa determinação de viver as leis de Deus para que nos qualifiquemos para receber Suas bênçãos na imortalidade.

ASSUNTOS PÚBLICOS: Muito obrigado.

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